Clara

, 1903

José Malhoa

Óleo sobre tela

224 × 134 cm
assinado e datado
Inv. 1604
Historial
Oferecido pelo banqueiro brasileiro Guilherme Guinle à Embaixada de Portugal no Rio de Janeiro. Doação do Ministério dos Negócios Estrangeiros ao MNAC, em 1955.

Exposições
Caldas da Rainha, 1950; Caldas da Rainha, 1955; Caldas da Rainha, 1981, 74, p.b.; Lisboa, SNBA, 1983, 101, p.b.; Lisboa, MNAC, 1983, 18, p.b.; Paris, 1987, 176, p.b.; Lisboa, 1988, 176, p.b.; Lisboa, 2002; Rio de Janeiro, 2003, 24, cor; Lisboa, 2005; Caldas da Rainha, 2005, 24, cor; Lisboa, 2006; Lisboa, 2008; Figueiró dos Vinhos, 2014.

Bibliografia
MONTÊS, 1950, 38, p.b.; SANTOS, 1953, 540, p.b.; FRANÇA, 1967, vol. II, 282; COUTO, 1981, 74, p.b.; Cinquentenário da morte de José Malhoa: Pintor de costumes, de paisagem e de história, 1983, 96, p.b.; Malhoa nas colecções do Museu, 1983, 39, p.b.; RIO-CARVALHO, 1986, 56; FRANÇA, 1987, 23, cor; FRANÇA, 1988, 204, p.b.; SILVEIRA, 1994, 44, cor; PEREIRA, 1995, 340, cor; FRANÇA, 1999, 25; PEREIRA, 1999, 325, cor; RODRIGUES, 2000, 194, cor; Diferença e conflito: O Século XX nas colecções do Museu do Chiado (Programa), 2002, cor; COSTA e BRANDÃO, 2003, 70, cor, 55 e 58 cit.; Malhoa e Bordalo: Confluências de uma geração, 2005, 83, cor.
Num vasto espaço rectangular apresenta-se uma minhota que o artista identifica na legenda como uma das Pupilas do sr. Reitor, do romance de Júlio Diniz. Clara fixa directamente o artista e o espectador torna-se cúmplice deste olhar e do momento em que a rapariga torce a roupa. Esta figura, dada a dimensão da tela, ergue-se num grande vulto colorido, captada como se um espelho convexo a reflectisse, ou seja, ilusoriamente desfocada, omite a sua verdadeira representação frontal. Ao longe, um homem apaixonado, Daniel, apercebe-se da cena e observa. No plano que os medeia, surgem os amarelos dourados do trigo, em pinceladas soltas.
Clara identifica-se com uma camada rural idilicamente feliz na fruição do campo. Assim, verifica-se em Malhoa a necessidade de corrigir imperfeições, de aligeirar o trabalho com um sorriso, de trajar a minhota a rigor. Saliente-se que num estudo, Clara reflecte a sua outra face, absorta e cansada, escondendo o olhar e o sorriso.
Esta composição abre-se à captação da natureza, num cromatismo vibrante e remete-se à apreensão do pormenor. O engenho cenográfico afirma-se entre o olhar amável, por vezes irónico e a observação atenta, ou seja, entre o sorriso de pose de Clara e o seu pé enlameado, realisticamente tratado. Em pinturas luminosas, de que esta Clara é exemplo, as propostas de ar livre são ultrapassadas em telas onde se alinha, em registos fotográficos sem filtros, uma “odisseia rústica nacional” (ALMEIDA in FRANÇA, 1966, vol. II, 280 ).

Maria Aires Silveira